Por: V3COM

22/05/2025

06:30:07

A DEPENDÊNCIA QUÍMICA É UM LIMBO SOMBRIO, COM EFEITOS DEVASTADORES

A DEPENDÊNCIA QUÍMICA É UM LIMBO SOMBRIO, COM EFEITOS DEVASTADORES
Johann Wolfgang von Goethe, amplamente considerado o maior literato da língua germânica, já em seu leito de morte, em 1832, pronunciou suas derradeiras palavras: "Lich, mehr licht!" — "Luz, mais luz!". Uma frase instigante, não apenas sob o prisma histórico, mas como metáfora. Nenhum problema se resolve sem foco, sem clareza do que se está buscando enfrentar, sem que projetemos luz sobre ele. - Créditos: Arquivo pessoal

Um dos problemas que merecem foco atualmente é a dependência química, condição que se caracteriza pelo consumo compulsivo, excessivo e contínuo de substâncias psicoativas ilícitas, bebidas alcoólicas, tabaco e medicamentos, capazes de modificar comportamentos e reações no usuário, trazendo consequências negativas para a saúde física, mental, social e financeira. Reconhecida como doença e classificada no Brasil com o CID F19, é um limbo sombrio, oculto e silencioso, com efeitos devastadores, em diferentes gradações. O comércio ilegal e o tráfico devem ser enfrentados como uma questão policial, mas a pessoa com dependência deve ser tratada e entendida num espectro social e de saúde pública, com intensa participação da comunidade científica e civil, da mídia, das escolas e das famílias. 

 

Um tabu que precisa ser enfrentado

 

Ainda que seja um tabu a ser enfrentado, as estratégias e ações em relação à pessoa com dependência devem ser conduzidas sem os preconceitos que muitas vezes causam vergonha, medo e barreiras na busca por tratamento. Como analogia, vale lembrar que, na década de 1970, o termo câncer era maldito e impronunciável, e atualmente é um tema que circula abertamente, facilitando a conscientização, a prevenção e o diagnóstico precoce. 
 

Semelhantemente, por volta de 1980, a Aids era uma sentença de morte e um estigma social que pairava sob as pessoas acometidas, então segregadas como os leprosos do Evangelho (hoje, hansenianos) e envoltas em preconceito e ignorância. No entanto, com empenho de governos, da sociedade civil organizada e com a evolução da ciência, o HIV saiu do armário escuro, e a doença tornou-se uma condição crônica gerenciável. 

 

Ademais, também como esforço de conscientização, prevenção e informação, nos anos 1990 iniciou-se, no Brasil e em parte do mundo, a desconstrução do consumo de cigarro, que até então simbolizava status e glamour. Durante o governo FHC, medidas antitabagistas ousadas e muito bem-sucedidas foram implementadas, incluindo a proibição de propagandas e a demonstração dos danos à saúde, o que promoveu a redução do número de fumantes de 32% para, nos dias atuais, apenas 10% da população adulta brasileira, um dos menores índices do mundo. 

 

Por uma sociedade bem informada 

 

Pesquisas indicam que cerca de 12%  da população adulta brasileira tem algum tipo de dependência química, grupo no qual há uma incidência maior de comportamentos de risco e violência.  

 

Em relação ao usuário de drogas ilícitas, é inadequado tratá-lo como um delinquente grave, marginalizando-o, ou com leniência. Ambas são atitudes extremadas, pois, de um lado, prisões servem como escolas do crime; de outro, o usuário pode ser coautor dos delitos dos traficantes. Nesse contexto, a reabilitação surge como alternativa sensata, promovendo a recuperação da dignidade do indivíduo, prevenindo reincidências e contribuindo para a segurança pública. Investir em tratamento e reinserção social é romper o ciclo da criminalidade e devolver ao cidadão a possibilidade real de reconstrução de sua trajetória. A abordagem terapêutica equilibrada reconhece tanto a responsabilidade individual quanto a vulnerabilidade humana diante da dependência.

 

Viu-se recentemente, nas Filipinas, um exemplo emblemático de um desses antagonismos apontados acima, em que o ex-presidente Duterte foi preso por ordem da Corte Penal Internacional em virtude de sua política de guerra às drogas, conhecida pela tolerância zero tanto a traficantes quanto a usuários. Já detido em Haia, na Holanda, onde aguarda julgamento, foi recentemente eleito prefeito da metrópole de Davao, prova da popularidade da mesma política que o levou aos problemas com a justiça. 

 

No outro extremo, há quem ainda minimize os efeitos da maconha e defenda a legalização. No entanto, é preciso levar em conta que os traficantes intensificam sua potência, elevando a concentração de THC (tetrahidrocanabinol, o principal componente psicoativo da planta) de 4% nos anos 1980, para até 30% atualmente. Como consequência, os efeitos psicológicos, físicos e cognitivos são bem mais danosos, mesmo para usuários casuais ou de fim de semana. 

 

Ademais, são vários os estudos sobre os efeitos deletérios da maconha, inclusive publicados em revistas conceituadas de psiquiatria e medicina (como a The Lancet britânica, fundada em 1823). E há diversos experimentos que comparam grupos de jovens usuários a grupos de não usuários da cannabis a longo prazo e mostram que usuários têm até 50% mais chances de desenvolver psicoses, depressão e ideação suicida. 

 

E não há como ignorar que a cannabis pode ser porta de entrada para opioides mais perigosos, como crack, cocaína, heroína, fentanil, ecstasy e LSD. Nos EUA, a overdose já é uma das principais causa mortis entre pessoas de 18 a 45 anos. O consumo de fentanil (opioide sintético 70 vezes mais potente que a morfina), por exemplo, avança a cada ano. 
 

Um esforço coletivo

 

Percorreu-se um espinhoso caminho na busca da redução dos danos causados pelo consumo de bebidas alcoólicas, tabaco e drogas ilícitas. Embora eivados de preconceitos e tabus, é indispensável o combate com estratégia e vigor aos tentáculos crescentes das redes de narcotráfico, que já é o maior empregador em muitos municípios do Amazonas. Um órgão da ONU estima que, em 2020, foram produzidas duas mil toneladas de cocaína  nos países andinos, com rotas que passam pelas facções criminosas brasileiras rumo à Europa, África e Ásia. Ou seja, carga para 66 carretas. Ao mesmo tempo, tão importante quanto, as políticas de conscientização, prevenção e tratamento da dependência química precisam de investimento, esforço e persistência. 

 

Os desafios são enormes e não cabe apenas ao governo enfrentá-los. É imprescindível que toda a sociedade — famílias, escolas, mídia e ciência — se mobilize para dar mais luz ao problema. 

 

Haja luz! Fiat lux! Frase do Gênesis, quando o Criador separa a luz das trevas. É uma das expressões mais icônicas da Bíblia, simbolizando clareza, conhecimento e ordem emergindo do caos. 
 

Jacir J. Venturi, professor, diretor de escola, pai de três filhos e avô de quatro netos*


 

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