Por: ATTILA MATTOS
22/09/2024
07:14:16
MAURÍCIO E SEUS CHURRASCOS MARAVILHOSOS
Talvez tenha nascido em Cordeiro, Cantagalo , Itaocara ou qualquer
outro município do centro-norte do estado, assim como grande parte do povo que
hoje forma a população de Nova Friburgo.
Na realidade recebemos grande
contingente de imigrantes desses municípios
em função do fim do ciclo do café
e também pelo parque industrial que se instalou aqui em Nova Friburgo.
Mas o fato é que nosso amigo Maurício, pela sua característica de um grande
gozador e por seus maneirismos interioranos, conquistava a amizade e o carinho
de todos que dele se aproximavam, tornando-se assim uma figura emblemática de
nossa cidade.
Outra virtude que
o caracterizava era a de ser um exímio churrasqueiro. Em sua casa sempre
recebeu os companheiros dos grupos sociais de que participava. Ele dizia
que gostava muito de preparar carne para os amigos e que adorava um bom
churrasco, principalmente de carne mal passada. A carne para ele tinha mesmo
que estar sangrando. Foi por aí que ele se complicou.
Com muita
tristeza, numa tarde de quarta-feira, recebi a notícia de que Maurício estava
no hospital em estado de coma em função de ter contraído triquinelose,
justamente a partir da carne quase crua que ele tanto apreciava em seus
churrascos de fim de semana. O quadro era gravíssimo podendo mesmo vir a óbito e, se não morresse,
as sequelas seriam terríveis.
A triquinelose é
uma infestação por larvas de um nematelminto muito versátil, a Trichinella
spiralis (popularmente conhecida como “triquina”). Este parasita pode infestar
todos os mamíferos que se alimentam de carne.
Ela não se restringe ao intestino pois migra através do corpo, se encista, fica encerrada dentro de uma
cápsula, e este cisto pode se fixar em qualquer parte do organismo criando
sérios problemas. A doença ocorre no
homem quando ele come carne de porco infestada e mal cozida. No caso de
Maurício o cisto da triquinela se fixou no cérebro afetando o sistema
locomotor.
Senti maior
tristeza ainda quando meses mais tarde encontrei Maurício na cadeira de rodas. Ao
cumprimentá-lo ele ainda mostrou aquele seu sorriso matreiro porém mostrava-se
completamente deformado pela doença . Foi duro ver aquele homem forte do jeito
que foi naquelas condições de debilidade. Sua esposa também apresentava sinais
de cansaço e envelhecimento. Abraçei os dois fraternalmente e fui para casa
amargurado e constrangido.
Nossa função de
Médicos Veterinários é basicamente de sanitaristas e portanto temos a obrigação
de alertar as pessoas quanto aos riscos na relação que temos com os animais,
sendo eles de companhia ou quando nos
servem de alimento. Infelizmente ainda não temos no Brasil uma condição
higiênico-sanitária perfeita no que se refere à criação, ao abate e à
conservação dos produtos de origem animal. Apesar do esforço dos nossos colegas
na inspeção e fiscalização, muitos animais ainda são criados em más condições
de higiene e muitos são abatidos fora dos matadouros e abatedouros credenciados.
Portanto amigos
leitores, CARNE CRUA, JAMAIS!!!