CARLOS ROSA MOREIRA
CARLOS ROSA MOREIRA
Membro do Cenáculo Fluminense de História e Letras, da Academia Niteroiense de Letras e da Associação Niteroiense de Escritores. Tem oito livros publicados, todos de crônicas e contos.

Por: CARLOS ROSA MOREIRA

29/12/2021

09:38:48

VÉSPER

Estava envolvido com doutrinas e jurisprudências. Lia, pesquisava. Por isto nem me dei conta de que o dia se fez noite.
VÉSPER
Pela janela vi a grande amendoeira revirar os galhos e mostrar a intimidade de suas folhas. Deixei os livros e fui espiar. Veio outra rajada, que de novo mexeu com a amendoeira, com as mangueiras, movimentou as sibipirunas e causou tumulto entre as bananeiras. Alvoroçou o verde do morro diante da minha janela. Nuvens esfumaçadas corriam pelo céu para esconderem os últimos vestígios de azulada claridade. Tudo se movimentava...

...“Isso é coisa do vento sul”, pensei. Depois veio a primeira faísca, e trovão a estremecer o mundo. E clarão e outra pancada e raio de cobrir espelho e esconder tesoura. A chuvada desceu, amansou o vento e pareceu alegrar todas as árvores e todo o verde. Então percebi um jeito de nossa casa nessa tarde. As tempestades tantas que apreciamos juntos. A luz acesa da cozinha para compensar o escuro trazido pelas nuvens. O vespertino bolo inglês, bem-vindo e cheiroso para acompanhar o café preto enquanto olhávamos a chuva. E nada dizíamos, apenas apreciávamos a chuva. Nossa casa era a proteção, camarote seguro a manter-nos ao largo das procelas do mundo. As tempestades arrebatavam nossos olhos extasiados com sua violenta beleza. Mas um dia percebemos o silêncio da casa. E era um silêncio frio, um silêncio de ausências. Nossas ausências.

O vento amainou, mas cai a chuva. Fulgem raios a vergastar céu e terra. Trovões se sucedem. Encostado à porta tomo café e observo tudo isso. As casas e os edifícios refletem as súbitas descargas elétricas. Mesmo feitas de cimento, tijolo e ferro parecem estremecer com o ímpeto da natureza. São como navios em mares furiosos. E naquelas paredes por onde as águas descem feito cascatas, vejo quadrados de luz que me lembram camarotes.

A tempestade de hoje mostrou-se com o vento sul. Ele a anunciou. Às vezes é o vento nas árvores, outras vezes  movimentação das nuvens; não raro, um fragor distante. Elas são assim, as tempestades. Deixam-se perceber, mesmo com sutilezas vagarosas. Mas, para percebê-las, é preciso ser leitor do tempo e do vento. Leitor das coisas do mundo.


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