CARLOS ROSA MOREIRA
CARLOS ROSA MOREIRA
Membro do Cenáculo Fluminense de História e Letras, da Academia Niteroiense de Letras e da Associação Niteroiense de Escritores. Tem oito livros publicados, todos de crônicas e contos.

Por: CARLOS ROSA MOREIRA

23/07/2023

09:25:11

DOMINGO DE JULHO, À TARDE

Ontem houve sol, houve movimento nas praias e nas calçadas, mas hoje as areias são pequenos desertos imprensados entre os edifícios e o mar.
DOMINGO DE JULHO, À TARDE
E o mar quebra solitário, independente das gentes. Choveu no início desta tarde de domingo. O calçadão está vazio. Fora a melancolia tão própria das tardes chuvosas de domingo, o cinza que me envolve é belo, e é especialmente belo porque o mar está batendo. Há pouco vento e a superfície cinza da água está lisa. Isso dá impressão de calma. As ondas vêm rolando com falsa lentidão, quase invisíveis, é preciso estar atento para perceber o volume crescente naquela aparente calmaria. Então, de repente, como num ataque surpresa, explodem sobre as pedras. Toda a enseada da Boa Viagem está coberta por uma camada branca. É a espuma resultante das vagas que se chocam contra a Ilha dos Cardos. Na ponta da Boa Viagem as ondas entubam para a direita e suas espumas vão engrossar a camada branca aprisionada na enseada ao abrigo de ventos e correntes. O espumeiro se move lânguido com o sobe e desce do mar. É este o mar dos peixes que oxigenam e caçam no embate das ondas.

 Além da barra, nas proximidades da Redonda, há uma nesga azul no céu. Aqui no Rio temos sempre a certeza de que chegará bom tempo. O inverno não passa de surtos de frentes frias. Por que as pessoas não saem para apreciar esse mar cinzento? É preciso tanto sol? Numa tarde de domingo como esta, avistei um ponto no mar. Era um nadador solitário,
avançando em direção à praia com braçadas firmes e ritmadas, plenamente à vontade na água. Poucos se aventurariam num mar cinzento e vazio como aquele numa embuçada tarde de domingo. Observei-o durante um tempo e o vi chegar à praia. Admirei aquele homem, ele desejava apenas estar no mar, cinza ou azul, ensolarado ou não. Éramos assim também, meu amigo Renato e eu. Gostávamos de ir
para o mar com o tempo chuvoso e a água clara. O mar fazia um aconchego na gente, era como estar em casa olhando a chuva pela janela.

            Fico a imaginar a vida abaixo da superfície naquelas pontas de pedra. As ondas revolvem o fundo, espalham pequenos seres e, se forem ondas suficientemente fortes, até arrancam mariscos. Peixes pequenos obedecem ao ir e vir das vagas, se equilibrando naquele turbilhão. No encalço deles e de toda comida espalhada na água, surgem os maiores em arrancadas velozes e botes rápidos. Tudo isso acontece neste instante e acontecerá sempre que as ondas baterem, havendo ou não nossa presença sobre a terra. Lembro-me das palavras de um velho homem do mar que entendeu seu tempo: “... as ondas que continuarão batendo depois que a humanidade se for”. Também procuro entender meu tempo. Por que passa tão rápido?  Será minha consciência de tudo que  já se foi e do pouco que será? Naquela época em que gostávamos de mergulhar num mar de águas claras com o dia chuvoso, não tínhamos passado, apenas o presente e a impressão de haver um futuro imenso. As ondas bateram, o tempo se acumulou e tomamos consciência de sua passagem. Acontecimentos ocorridos há vinte, trinta anos, parecem recentes, pois somos mais passado do que futuro. É a sabedoria da natureza, que nos
mantém com nossas lembranças mais antigas para não perdermos o aprendizado. 

Lembro-me das conversas dos marinheiros e dos mergulhadores mais velhos. Éramos adolescentes e gostávamos de ouvir suas histórias. Certa vez, ao contar um fato, um deles disse: “... tem pouco tempo isso, foi na época que encontrei o corpo de Vitinho, não lembra?” “Vitinho” era meu primo, grande nadador que, por conta de uma síncope, morreu nadando no mar. Desde criança ouvia aquela história ocorrida numa época remota, anterior ao meu nascimento. Meu amigo e eu tínhamos quinze anos quando ouvimos o velho mergulhador contar o caso e rimos muito do “... tem pouco tempo isso...”. Hoje eu entendo o mergulhador, que tinha muito mais vida do que só vinte anos. É... é igual a caminhar. A gente começa, vai avançando, controlando a respiração, acertando o passo, sentindo dores, aquecendo juntas e músculos. Adquirimos ritmo e consciência dos nossos passos, o corpo vai se azeitando e aprendemos coisas sobre nós mesmos. Então, repentinamente, inicia-se um galope danado. Se não cuidar, perde-se a noção.

            Comecei falando do domingo, do mar e do tempo chuvoso e acabei com essa comparação batida e banal da vida com uma caminhada. Deve ser porque estou caminhando enquanto penso essas coisas, e pensamento puxa pensamento. Pensei na palavra galope e me lembrei da Cavalgada, em cujos versos preciosos, escritos com sangue eterno, Cecília nos mostra a inexorabilidade do tempo:

            Escuta o galope certeiro dos dias saltando as roxas barreiras da aurora .Tem gente que precisa escutar esse galope...Uma tainha salta e faz um buraco escuro no branco espumoso do mar. Está tudo cinza e bonito nesta tarde de domingo.

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