Por: ATTILA MATTOS
11/08/2024
08:08:03
DONA FRIDA, SUAS DORES DE CABEÇA E SEU CÃOZINHO PETZY
O fato é que, no meu serviço de
Medico Veterinário, fiz amizade com muitos desses gringos, relacionamentos
esses que mudaram minha cabeça para sempre. Lembro de ver essas senhoras
europeias já idosas catando peras no chão e com uma faquinha separando a parte
boa dos frutos para fazer doce, enquanto nós desprezamos tudo aquilo que não
está perfeito. Elas sim, viveram uma guerra terrível que devastou seus países
e sabiam da necessidade de poupar para momentos de dificuldade. Portanto,
reconheciam Portanto, reconheciam o valor até de uma
meia fruta aproveitável. Observando coisas assim é que fui me transformando em outra pessoa.
Uma das pessoas mais interessantes que conheci naquela época foi Dona Frida,
com quem conversava muito nas minhas consultas aos seus cães. Sentados naquela
varanda, ela me contou muitos fatos ocorridos na sua vida. Já era viúva do seu
segundo marido, gostava muito de cigarro e, com sua voz característica do
tabagismo crônico e seu bom humor incrível, apesar de ter vivido os horrores da
guerra, me narrava fatos tais como a estória de que foi nascida numa
republiqueta do leste europeu e que quando desembarcavam na Ilha das Flores na
baia de Guanabara vindos da Europa, todos os casais iam para o mato para ter
relações sexuais, e exibia um sorriso largo ao relatar isso. Outra pérola de
Dona Frida era o relato que seu segundo marido brasileiro era muito mais
carinhoso de que o primeiro que era alemão. Agora, imaginem vocês, eu, ouvindo
essas estórias; minha mente viajava enquanto escutava a reminiscências do
passado dessa gente.
Mas o tempo passa para todos não e Dona Frida, duas vezes viúva, solitária e
sem seus cães, começou a apresentar dores de cabeça tenebrosas. Seguiram-se
então os inúmeros exames e nada se descobria. Passou por vários especialistas
tais como clínico geral, neurologista, psiquiatra e outros, mas ninguém fazia
um diagnóstico ou tratamento eficaz. O sofrimento era imenso. Depois de muita
luta, lhe indicaram um psicólogo e este sim, diagnosticou a dor de cabeça como
sendo se origem psicológica, para surpresa de todos, visto ser ela uma mulher
alegre e sagaz. Mas o coração tem razões que a própria razão desconhece, e
aquela velha senhora tinha suas dores por motivos subliminares que não nos cabe
aqui examinar. O psicólogo foi avaliando o caso nas sessões seguintes e,
constatando que as medicações da psiquiatria não davam resultado, teve uma
intuição de recomendar que ela adquirisse um cão de companhia visto que ela
falava muito de seus cães falecidos durante as conversas que tinham. A
receita foi como um bálsamo para minha velha amiga, e quando chegou em casa
logo me ligou para que arranjasse um cãozinho. Me desdobrei e naquela tarde
mesmo consegui um filhote para ela que de imediato o batizou de Petzy. Muitas
vezes eu a ouvia chama-lo de Petzyly e custei para descobrir que o sufixo ly é
uma espécie de diminutivo carinhoso da língua germânica que se dá a quem se tem
carinho.
A verdade é que Petzy curou Dona Frida das dores de cabeça e ainda a acompanhou
até o fim da vida dela. São fatos como esse nos fazem pensar como os animais
são importantes em nossas vidas. Enquanto a senhora cuidava de seu cãozinho e
compartilhava com ele todas os momentos de sua vida, a dor de cabeça foi pro
espaço. Isso pode acontecer com qualquer um de nós; um cão, gato ou outro
animal doméstico, pode salvar uma vida humana. Isso é um fato real comprovado pela
ciência.
Quero aproveitar esse momento para homenagear todos esses imigrantes que
certamente engrandeceram a cultura de nossa terra.
Portanto, caros leitores, é preciso amar os animais com responsabilidade.