Por: LETYCIA BOND - REPÓRTER DA AGÊNCIA BRASIL - SÃO PAULO
03/12/2024
13:53:28
COMPOSITOR DE AQUARELA, TOQUINHO COMPARTILHA MEMÓRIAS EM DOCUMENTÁRIO
Um dos principais expoentes da música popular brasileira (MPB), Antonio Pecci Filho, que adotou o nome artístico Toquinho, ganhou, aos 78 anos, um documentário que permite que os espectadores revivam com ele sua história, recheada de lembranças bem-humoradas e o brilho único de amizades de longa data.
Dirigido
por Erica Bernardini, o filme Toquinho: Encontros e um Violão dá
ênfase ao entrecruzamento da vida do musicista com a Itália, repetido muitas
vezes ao longo dos anos. Foi, inclusive, nesse contexto que compôs a famosa
música Aquarela,
que, há quatro décadas, encanta crianças de todo o Brasil. E da Itália também,
já que se pode dizer que metade dela é criação sua e metade do italiano Guido
Moura. Toquinho conta que Moura já tinha feito parte da melodia e que ele a
completou.
Chico Buarque
O
musicista relata que, certa vez, foi parar no Velho Mundo por conta de um
convite de seu íntimo amigo Chico Buarque, de quem é próximo desde a juventude.
Chico havia se mudado para Roma no início da ditadura civil-militar, em 1969,
com a então esposa, a atriz Marieta Severo, grávida da primeira filha do casal.
Embora
nessas e em outras narrações, Toquinho seja capaz de adicionar comicidade,
também demonstra ter sensibilidade e a devida seriedade ao compartilhar o caso
de um amigo que foi perseguido pelos agentes de repressão.
Ele
e outro parceiro na arte, o violonista e compositor gaúcho Lupicínio Moraes
Rodrigues, mais conhecido como Mutinho, explicam no documentário que a canção Lembranças foi
uma forma de homenagear um amigo, Tenório, que foi torturado e assassinado
pelos militares.
A
letra remete às arbitrariedades da ditadura: Pedro seguiu seu caminho/Chico pediu pra
ficar/Tenório saiu sozinho na noite: sumiu, ninguém soube explicar/Outros
amigos se foram/Guardando seus ideais/Entre verdade e delírio/Uns semearam
saudade no exílio/Outros não voltam jamais.
Mutinho
assinou um dos álbuns mais celebrados, o Casa de Brinquedos, com
faixas de gente tarimbada, como Moraes Moreira, Chico Buarque e Tom Zé.
Acidente do irmão João Carlos
Outra
vivência de Toquinho, tratada com igual delicadeza, é o acidente de seu irmão,
João Carlos Pecci. João Carlos fala de Toquinho com imenso amor e diz que
perdeu o movimento das pernas após seu carro sofrer uma colisão, no caminho de
um show de Nara Leão.
João
Carlos, depois do acidente, passou a se dedicar à escrita e, logo que finalizou
sua primeira obra, pediu ao irmão que lesse, para dizer o que achava. Toquinho
entregou a ele uma fita cassete, com a canção Meu irmão gravada.
"Está aqui a resposta", disse Toquinho a ele.
Emocionante,
a música tem uma mensagem de pura conexão fraternal: Você meu grande herói/Mais poderoso que
o inimigo/Você, constante amigo, meu distante companheiro/Você, que o tempo inteiro
não tem medo do perigo, não.
Além
de dividir memórias de seu círculo mais próximo, vai, ao longo do documentário,
refazendo seu caminho sem deixar de fora os momentos em que se sentiu inseguro
na carreira. Ressalta, por exemplo, que, no território italiano, teve certo
receio de tocar em uma casa de shows vazia.
Isso
contrasta com os primeiros passos no aprendizado do violão, quando,
extremamente confiante, quis saltar do simples dedilhar a ocupar horários na
agenda de grandes mestres, o que acabou conseguindo.
E
tudo se desdobrou não sem sua dedicação, o que sublinha até hoje como sua
marca. Toquinho afirma que toca todo dia. "Sinto falta da força física da
música", justifica.
Vinicius de Moraes
Quanto
à parceria mais longeva, com o musicista, poeta, dramaturgo e jornalista
Vinicius de Moraes, uma das opiniões que buscam sintetizá-la é a do
apresentador televisivo Pedro Bial, que diz que Toquinho "era tão herege e
livre" quanto Vinicius. Para Bial, a dupla respeitava, com suas
composições, "uma nobreza que não ficava presa em ternos e gravatas"
e, por isso, cativava muito facilmente.
O
documentário, que também apresenta um rico acervo de fotos, incluindo uma de
Toquinho com Bob Marley e craques do futebol brasileiro, foi realizado no
âmbito dos 150 anos da Imigração Italiana no Brasil, promovido pela Embaixada
da Itália.
O
filme pode ser assistido gratuitamente até o próximo domingo (8), pelo site Toquinho: Encontros e um
Violão. A produção faz parte do Festival de Cinema Italiano no
Brasil.