Por: CRISTINA FREITAS - ASSESSORIA DE IMPRENSA
26/09/2024
14:53:44
BETS: UMA APOSTA DE EXCLUSÃO!
Por: André Naves (*)
O que mais choca,
porém, é que desse montante, cerca de R$ 3 bilhões foram desperdiçados por
beneficiários do programa Bolsa Família, uma política pública destinada a
promover a autonomia, dignidade e segurança alimentar. Esses números são um
reflexo gritante de como as bets estão ampliando a miséria, a exclusão social e
comprometendo a saúde financeira e emocional das famílias.
O impacto desse valor desviado da economia, especialmente dos
beneficiários do Bolsa Família, é devastador. Esse programa, historicamente,
foi criado para garantir que as famílias de baixa renda pudessem ter acesso às
necessidades básicas e, assim, desenvolver suas capacidades intrínsecas de
participação ativa na sociedade. No entanto, ao serem capturadas pela ilusão
das apostas, essas famílias desperdiçam recursos essenciais, comprometendo
setores econômicos fundamentais, como o comércio e os serviços.
Com menos renda
disponível para o consumo, há uma retração na demanda desses setores,
prejudicando pequenos negócios e contribuindo para uma desaceleração da
economia local, especialmente em comunidades de baixa renda. O ciclo de
dependência econômica, que o Bolsa Família buscava quebrar, torna-se ainda mais
evidente e cruel.
Além do prejuízo econômico direto, o impacto da bets reflete-se também
no endividamento familiar. Famílias que já enfrentam dificuldades financeiras
se veem cada vez mais endividadas, arrastadas por um ciclo vicioso de perdas e
mais apostas. O sonho de melhora financeira, promovido por uma falsa promessa
de ganho fácil, rapidamente se transforma em um pesadelo de exclusão econômica,
à medida que os recursos para educação, saúde e alimentação são destinados ao
jogo. Assim, as apostas exacerbam a vulnerabilidade dessas famílias,
perpetuando um ciclo de pobreza que compromete gerações.
Não se pode ignorar, também, os impactos devastadores sobre a saúde
mental. O vício em apostas gera ansiedade, depressão e estresse, condições que
muitas vezes evoluem para casos mais graves, como o suicídio. O equilíbrio
emocional familiar é destruído, levando à desagregação, conflitos e, em muitos
casos, à violência doméstica.
A fragilidade social
se amplia, com comunidades inteiras enfrentando as consequências desse vício:
aumento da criminalidade, da marginalização e da ruptura dos laços sociais. A
aposta, portanto, não se limita ao indivíduo que participa, mas tem efeitos
diretos na sociedade como um todo. A exclusão social se agrava à medida que
esses indivíduos, já fragilizados economicamente, perdem suas chances de
ascensão social e de participação no mercado de trabalho.
Por fim, é importante
destacar que, ao eliminar o dinheiro arduamente conquistado pelo trabalho, as
bets afastam os indivíduos do sonho do empreendedorismo e da autonomia
financeira. A falsa promessa de ganhos rápidos destrói as oportunidades reais
de crescimento, impedindo que as pessoas invistam em educação, qualificação
profissional e em pequenos negócios.
A frustração, a carestia e a desesperança são os adubos que tornam o
solo social fértil para a radicalização ideológica. Em cenários de seguidas
frustrações, o surgimento de respostas políticas violentas e antidemocráticas
encontra espaço. As bets, nesse contexto, são parte da equação que fomenta o
extremismo e a polarização política, contribuindo para o cenário cada vez mais
radicalizado e violento em que vivemos.
Diante desse panorama, torna-se urgente a implementação de uma ampla
regulação legislativa e jurisprudencial para controlar as apostas online. Uma
regulação efetiva precisa restringir o acesso, sobretudo de populações
vulneráveis, e estabelecer mecanismos de proteção financeira e psicológica para
aqueles que já estão imersos nesse ciclo de destruição.
Neste contexto, a
Educação Pública de Qualidade surge como um pilar fundamental para enfrentar
esse grave problema. Ao promover, nas escolas e universidades, a
conscientização sobre os riscos das apostas e desenvolver habilidades críticas
nos jovens, podemos evitar que novas gerações caiam nas armadilhas desse
sistema.
Para que o Brasil possa, de fato, promover a inclusão e a emancipação, é
necessário enfrentar de frente essa realidade e garantir que os recursos sejam
utilizados para a construção de um futuro mais digno e justo para todos.
A bets são mais do
que um jogo: são uma aposta na exclusão social. Somente por meio da regulação e
da educação, podemos começar a reverter esse processo e proteger as famílias
brasileiras de um destino de miséria, frustração e exclusão.
* André Naves é Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos, Inclusão Social e Economia Política. Escritor, professor, ganhador do Prêmio Best Seller pelo livro "Caminho - a Beleza é Enxergar", da Editora UICLAP (@andrenaves.def).
Defensor Público Federal André Naves / Foto: Arquivo Pessoal