CARLOS ROSA MOREIRA
CARLOS ROSA MOREIRA
Membro do Cenáculo Fluminense de História e Letras, da Academia Niteroiense de Letras e da Associação Niteroiense de Escritores. Tem oito livros publicados, todos de crônicas e contos.

Por: CARLOS ROSA MOREIRA

04/03/2024

18:30:57

DOMINGO LINDO

DOMINGO LINDO
Domingo lindo, dia de sol, eu não pego o anzol, mas aprecio a Rasa ao longe...

...Estou num boteco sur mer. Acima de mim o céu azul, e em torno o mar pacífico sobre o qual um vento suave coopera com a regata classe Oceano a enfeitar as águas. A vista é de uma beleza sem par nessas matas: a Fortaleza de Santa Cruz resplende ao Sol vespertino, que deixa o Pão de Açúcar "logo ali" e as ilhas quase ao alcance das mãos. Tomei algumas doses e minhas janelas estão abertas, meu espírito flana tranquilo feito esta tarde de delicadezas. Além da minha, só mais uma mesa ocupada, onde duas mulheres formam um casal: se abraçam, se beijam, parecem se amar neste momento manso. Para um carro. Saltam o pai, a mãe, a filha adolescente e o filho criança. Com miríades de mesas vazias, eles escolhem a do meu lado.

- Não gosto de lugar com mato! - reclama a adolescente.

Não há mato algum, só umas amendoeiras, as sibipirunas e uns tufos de capim-colonião na encosta que desce para o mar. O pai poderia ter ficado quieto, mas lasca: 

- Isto aqui tem muita natureza. Tudo isto é natural!

Não é não. É aterro feito no governo Moreira Franco. É tudo artificial! Procuro não me importar, aprecio a manobra bonita de uma veleiro. Aí o garoto resolveu se equilibrar na mureta da encosta. Ninguém diz nada, mas sei que aquilo não vai dar certo. De repente, o pezinho do moleque resvala e ele se estatela. Abre o berreiro no domingo lindo.

- Meu Deus! Tá sangrando no joelho! - exclama a mãe.

- Joga um pouco desta água mineral - socorre o pai, passando a garrafa à mãe. Sinto-me parte daquilo e aconselho:

- Passa um sabãozinho no joelho da criança...

Eles agradecem e a mãe vai pedir sabão ao rapaz do bar. Olho para a baía e quase ouço o vento nos estais dos veleiros. O garoto se acalma. A mãe saca um tablet e mexe naquilo com o filho; o pai mostra à filha um joguinho no celular. Ninguém conversa, estão quietos e entretidos com suas telas, de costas para o mar. Percebo que o vento vem de leste, lá onde nascerá a Lua de Niterói, e hoje será crescente, eu sei. A maré dá sinais de que mudará dentro em pouco. Uma arraia-chita dá um, dois, três saltos, fragatas pairam sobre a Boa Viagem. As duas mulheres deixaram o bar e agora caminham de mãos dadas lá embaixo na calçada; talvez não saibam que por onde andam um dia foi mar. O rapaz do boteco está debruçado sobre o balcão, se ninguém o chamar ele vai dormir. Compenetrados, os membros da família apertam suas teclas. Meus olhos vagueiam, felizes, sossegados, com a certeza de que quase nada sabem, e assim está bom.


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