Por: AYRTON DIAS
27/11/2022
12:45:11
TURISMO EM AMBIENTE NATURAL É COISA SÉRIA
Infelizmente os atrativos naturais precisam de um urgente ordenamento, já que a utilização desregrada está resultando na degradação das nossas belezas cênicas. A gestão do turismo municipal carece de infraestrutura, campanhas educativas, fiscalização e punição exemplar para aqueles que insistem no uso predatório. A inconsequência de alguns gera desdobramentos que ocasionam prejuízos incalculáveis.
Para tratar do assunto entrevistaremos o experiente guia de turismo Paulo Braga Júnior:
Foi aprovado pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), um projeto de lei que torna a prática do montanhismo Patrimônio Cultural Imaterial do Estado do Rio de Janeiro. Podemos considerar um avanço, mas qual é o atual cenário para a prática de atividades turísticas relacionadas ao montanhismo em nossa cidade?
- Não é o ideal, precisamos ordenar o acesso aos atrativos. É importante
que haja um controle de fluxo para que nossas montanhas continuem belas e
atraentes para turistas e visitantes. A capacidade de carga e a manutenção da
limpeza devem ter atenção especial. As montanhas devem ser frequentadas por
pessoas que tenham o real entendimento da palavra sustentabilidade.
Existe algum estímulo governamental a prática do turismo ligado á natureza?
- Infelizmente ainda não ocorreram, até o presente momento, ações para estruturar esse tipo de turismo. É preciso haver um controle de acesso, limitando o número de pessoas por grupo e uma fiscalização para que não haja uma utilização predatória. Somos privilegiados por poder contar com uma região dotada de natureza deslumbrante. É fundamental que ela seja preservada!
O guiamento deve ser feito respeitando sempre a capacidade de carga dos atrativos
Gostaria de sugerir algumas ações para que haja o ordenamento do uso dos atrativos?
- Sim, um controle maior por parte do poder público em relação ao uso
predatório, não só das montanhas, como também das nossas cachoeiras. Há um
grande desgaste das trilhas de acesso e também dos próprios locais em si. Tudo
em função de um turismo desregrado. É fundamental o ordenamento do uso, pois a
degradação pode fazer com que esses importantes atrativos naturais percam sua
pujança. Locais feios e poluídos não são atraentes para o público amante da
natureza.
Os montanhistas friburguenses têm promovidos mutirões de limpeza. Onde são encontrados os maiores sinais de degradação em nossas montanhas?
- O Centro Excursionista Friburguense (CEF) já, tradicionalmente, adota
uma política de preservação com a realização de limpeza dos cumes e até de
campanhas educativas. Infelizmente, na atualidade, não está sendo possível o
acesso as escolas para estimular o montanhismo e a conscientização em relação
as boas práticas de utilização dos recursos naturais.
Os mutirões ocorrem com frequência, mas estamos observamos que a
facilitação de acesso - com a colocação de cordas, correntes e demais
acessórios - está contribuindo para acelerar a degradação de locais como a Pedra
da Posse (Focinho de Porco) e Chapéu da Bruxa na Região do Caledônia e os Picos Menor e Médio na Região de Salinas, por exemplo.
Durante a pandemia as pessoas estão frequentando mais os ambientes naturais e percebe-se claramente uma movimentação maior nos cumes, rios e cachoeiras. No Circuito Caledônia é comum encontrar mais de 300 banhistas em um pequeno poço de rio.
Preservação e segurança são fundamentais
Quando será realizado o próximo mutirão?
- Estamos atentos ao acúmulo de lixo nos cumes e seus acessos, e sempre que necessário agimos nesse sentido. Para unir esforços junto ao CEF, criamos um grupo no Caledônia para atuar na recuperação de áreas degradas com o plantio de mudas de vegetação nativa. A recuperação das matas ciliares também é um dos nossos objetivos para que os mananciais sejam protegidos, permitindo que as vazões das nascentes tornem possível o abastecimento dos vários afluentes da nossa região.
É bom ressaltar a importância da Região do Caledônia para o turismo, não
só em função do seu maciço como também por abrigar a Saudade de Asa Cinza, uma espécie raríssima e endêmica, que atrai observadores de aves de várias partes
do mundo. Quero registrar o trabalho individual do fotógrafo da natureza Jalmirez Silva, que contribui efetivamente para a recuperação das áreas assoladas pelo uso indevido.
Alguma mensagem?
Gostaria que o guiamento fosse realizado de maneira profissional e consciente. Aspectos como segurança e preservação devem ser considerados sempre. Não cabe amadorismo, pois a responsabilidade é enorme. Nova Friburgo deve ser, realmente, a meca do montanhismo e é preciso trabalhar muito nesse sentido!