Por: GABRIEL THULER COSTA
25/12/2021
12:02:37
CERVEJAS HISTÓRICAS E MUITAS HISTÓRIAS NÃO CONTADAS... E PROVADAS
Um projeto realizado pela cervejaria americana Dogfish Head com o arqueólogo Patrick McGovern que passou aproximadamente 20 anos rodando o mundo atrás de recipientes usados por civilizações antigas para guardar suas cervejas, ele conseguiu recuperar receitas de até 9 mil anos. Patrick então passou a usar o que aprendeu analisando os vestÃgios das bebidas ancestrais para reconstituÃ-las com tecnologia moderna, porém com os ingredientes e fermentação à moda antiga. Desse projeto surgiram edições limitadas de 5 cervejas fabricadas por civilizações antigas de Honduras (Theobroma – 3mil anos – cacau, mel, sementes de urucum e chili – 9% álcool), China (Chateau Jiahu – 7mil a.C. – cevada, arroz, mel e uva – doce e azeda – 10%), Egito ( Ta Henket – receita de hieróglifos – pão, camomila, frutos da palmeira africana, trigo e condimento zatar – 5% de álcool), Turquia ( Midas Touch – 2mil anos – taças encontradas no túmulo do Rei Midas – mel, acafrão, cevada e uvas moscatel – 9% de álcool) e Peru (Chicha – Incas – milho vermelho, morango e pimentas – 6% de álcool).
Uma cervejaria Brasileira, a Sundog, localizada na cidade do Rio de Janeiro tem por filosofia trabalhar com cervejas históricas. Segundo o que o próprio site deles relata “...surgiu uma Cervejaria que produz cervejas históricas, trazendo estilos cervejeiros únicos feitos com matérias primas originais, onde até a água utilizada replica o tipo de água de origem da cerveja. A intenção é resgatar essas receitas e suas histórias, contando como e onde elas surgiram e por que as pessoas as fabricavam e as bebiam!â€, entre alguns dos estilos históricos produzidos por eles estão a Sahti e a cerveja celta Pictii. A Sundog usa métodos e ingredientes peculiares como decocção por pedras quentes, fermentação aberta, fermentação selvagem, levedura de pão, elementos como peiote, bappir, za’atar, areia do Saara, tâmaras do Iraque, junÃpero da Escandinávia e sálvia branca.
Também aqui na serra, mais precisamente em Nova Friburgo, a Cervejaria Alpendorf produz rótulos de cervejas históricas.
A Kentucky Common e a Margherita Gose. A Kentucky Common um estilo originalmente americano, quase exclusivamente produzida e vendida em torno da área metropolitana de Louisville - Kentucky, surgiu algum tempo depois da Guerra Civil e durou até a Lei Seca Americana. Seu diferencial era que a produção era razoavelmente barata e rápida, geralmente entre 6-8 dias até a distribuição. Era fermentada e distribuida em barris de madeira. Uma cerveja leve com a adição de maltes tostados, por influência de cervejeiros alemães, e com a utilização de milho, devido a disponibilidade desse insumo na região. Até o final do século XIX, a Kentucky Common não era produzida nos meses de verão, porém, com a chegada das máquinas de gelo, as maiores cervejarias foram capazes de produzir durante todo ano. Entre 1900 e a Lei Seca (Prohibition), cerca de 75% da cerveja vendida na área de Louisville eram as Commons, entretanto, com a Lei Seca, o estilo morreu por quase que por completo, já que poucas das grandes cervejarias que continuaram abertas produziam quase que exclusivamente lagers. A produção dela na Alpendorf iniciou-se como uma cerveja feita para o tributo ao querido e talentoso Sergio Knust, estilo escolhido inicialmente por ter a letra “K†em comum. A cerveja caiu tanto nas graças do povo, assim como o som de Serginho, que ela entrou em linha, se tornando uma das cervejas mais vendidas e queridas do público da Alpendorf.
Outro estilo criado em Conquista, foi a Margherita Gose, uma adaptação contemporranea da Gose uma cerveja tipicamente alemã, que é um estilo pouco comum e que teve origem na Idade Média, na cidade de Goslar. Lá haviam muitas minas de sal e os resÃduos delas escorriam para o rio Gose, logo toda a cerveja produzida era com água salobra do rio, que conferia um sabor salgado a cerveja, além disso, devido a fermetação espontânea conferia um sabor ácido a ela. Ainda era adicionado coentro a receita. Diz-se que em Leipzig haviam 80 “casas produtoras†de Gose em 1900. A produção diminuiu significativamente após a Segunda Guerra Mundial e terminou completamente em 1966. A produção moderna foi reavivada em 1980, mas não é amplamente disponÃvel nem fácil de encontrar. Na versão friburguense, que inclusive foi eleita a melhor gose contemporrânea do Brasil, levando uma medalha de ouro no Concurso Brasileiro de Cervejas de Blumenau – 2021, ainda são acrescentados tomate e manjericão, conferindo certa italianidade a receita histórica, transformando a cerveja em uma pizza lÃquida. Essa invencionice foi feita pra homenagear a ancestralidade italiana das famÃlias dos sócios da Alpendorf.
Esse texto vem mostrar à você leitor, que até mesmo um simples gole de cerveja pode agregar muito mais do que alegria, aromas e sabores, mas também uma bela dose de história e conhecimento.